Entrevista O mestre Suassuna

Jornal CDO: Mestre, são 50 anos de capoeira e muita história pra contar...
Mestre: É isso aí... Como o tempo passa né mesmo? Mas eu comecei capoeira por motivo de doença, vocês já sabem esta história. Eu não gostava de capoeira, mas acabei indo por indicação médica. Depois eu tomei gosto, fiz apresentações, shows e daí eu comecei a ter aquela vaidade, eu jogo capoeira não é porque eu gosto, é porque o povo gosta de me ver jogar capoeira. Daí que passei a me dedicar mesmo e agora fazem 50 anos. Mas eu digo 50 anos de ensino, ainda ficou pra trás uns anos aí... (risos), mas conto 50 anos.
Jornal CDO: Muitas pessoas consideram o senhor como um visionário da capoeira, alguém que tem sempre uma visão de futuro e que mudou a capoeira de muitos grupos hoje em dia. Como o senhor vê a capoeira hoje e no futuro?
Mestre: É engraçado porque muitos me adoram, mas não tem como agradar a todos né? A capoeira é dinâmica ela movimenta, ela atualiza e desenvolve sozinha, tem vida própria mesmo. O que eu fiz foi resgatar uma capoeira que ficou perdida no tempo, uma capoeira que eu via na Bahia. Tinha o João Bate-estaca, que é o mestre João Grande e outros tantos lá que faziam uma capoeira maravilhosa, como ainda hoje. Ele, mestre João Pequeno e outros mais são exemplo de maestria mesmo. Ninguém mais quer a violência na capoeira. Veja bem, o aluno paga uma mensalidade e o professor o coloca para brigar? O mundo tá muito violento e a capoeira precisa ser algo prazeroso pro aluno. O negócio é jogar a capoeira, uma capoeira bonita, forte, eficiente, mas uma capoeira com respeito ao outro. Quando a gente sabia que tinha um capoeirista na nossa cidade, ou numa cidade próxima, a gente ia, de bicicleta, a pé, de jegue, seja lá como for, mas a gente ia lá ver o cara, aprender, treinar junto e tal. Hoje o mestre manda os alunos irem quebrar a roda do outro. Eu digo sempre pros meus alunos, olha, vai lá participe, não some mas multiplique, acrescente e, principalmente, faça amigos. É isso que está faltando na capoeira, esta camaradagem que virou uma rivalidade burra, sem objetivo nenhum e quem perde é a capoeira. Hoje, o feitor da capoeira é o próprio capoeirista. E precisamos mudar isso, acho que já tá mudando, pra melhor.
Jornal CDO: O grupo Cordão de Ouro tem crescido bastante. São hoje mais de 70 mil alunos. Como o senhor vê este crescimento da capoeira?
Mestre: Quando tudo começou eu já imaginava que a capoeira iria crescer, mas nem tanto assim né? Lembro como se fosse hoje, eu e o Brasília começando a até mesmo a escolher o nome do grupo. O grupo Cordão de Ouro foi criado entre 66 por aí, registrado em 67. Eu e o Mestre Brasília fundamos a Cordão de Ouro, depois o Brasília saiu e eu continuei. Começou os primeiros alunos, foi crescendo, gente buscando o treinamento, e hoje eu digo que a capoeira saiu da Bahia, ganhou São Paulo, o Rio e depois o mundo. A capoeira é muito forte no exterior, toda capoeira. A Cordão de Ouro também, nos EUA, na Europa, em Israel, no México, agora temos no Japão, na Rússia, na Polônia no Chile e em Itabuna, rsrsrs. Digo Itabuna porque recentemente recebemos uns alunos que na verdade são bisnetos meus de capoeira que agora fazem parte da Cordão de Ouro, já eram da família, do Grupo Raça, grupo que considero uma extensão do meu trabalho, como considero meu filho o Mestre Luiz Medicina. Mas é uma alegria enorme receber estes presentes que Medicina me deu, Ninja, Risadinha e outros lá. Acho que o crescimento da capoeira é bom, mas é preciso aquilo que eu disse, é preciso mudar a mentalidade do capoeirista, principalmente dos mestres e graduados. Parar de achar que sua capoeira é melhor, ou que você é melhor. Um exemplo de mestria é João Grande e João Pequeno: dois homens que eu quero como referência como mestre de capoeira. O cara sabe que ele é um ser humano igual a outro, mortal igual ao outro e que o maior é Deus, e não ele.
Jornal CDO: E o Capoeirando 2010? Os 50 anos de capoeira?
Mestre: Bom, o Capoeirando começou com uma parceria com o Mestre Gato e o Mestre Peixinho, o Marcelo Caveirinha em Ubatuba em 94 e depois resolvemos fazer na Bahia. Daí o Gato e o Peixinho foram fazer em Arraial do Cabo e eu continuei lá na Bahia, em Ilhéus. Eu sempre queria fazer um evento grande lá, há muitos anos eu dizia ainda pro pai de Temi: ainda vou fazer um encontro internacional aqui. Praia, capoeira, água de coco e tudo mais. Muita capoeira, é manhã, tarde e noite, aulas, bate-papo, mestres e mais mestres. Durante 6 dias de integração social é gente se conhecendo, gente conhecendo outros países, muitos países. Já chegamos até 30 países. Nunca teve uma desavença, uma briga. Esse é um dos maiores agradecimentos meus aos capoeiristas. O sucesso do Capoeirando não é meu, é da capoeira. Agradeço aos mestres, aos alunos, aos meus amigos que todos os anos me ajudam lá. E espero todos vocês neste ano. Vamos fazer uma formatura da matriz, campeonato, festival de música e muito mais. Estou esperando muitos mestres e contramestres pra comemorarmos juntos os 50 anos de capoeira.
Jornal CDO: Mestre, são 50 anos de capoeira e muita história pra contar...
Mestre: É isso aí... Como o tempo passa né mesmo? Mas eu comecei capoeira por motivo de doença, vocês já sabem esta história. Eu não gostava de capoeira, mas acabei indo por indicação médica. Depois eu tomei gosto, fiz apresentações, shows e daí eu comecei a ter aquela vaidade, eu jogo capoeira não é porque eu gosto, é porque o povo gosta de me ver jogar capoeira. Daí que passei a me dedicar mesmo e agora fazem 50 anos. Mas eu digo 50 anos de ensino, ainda ficou pra trás uns anos aí... (risos), mas conto 50 anos.
Jornal CDO: Muitas pessoas consideram o senhor como um visionário da capoeira, alguém que tem sempre uma visão de futuro e que mudou a capoeira de muitos grupos hoje em dia. Como o senhor vê a capoeira hoje e no futuro?
Mestre: É engraçado porque muitos me adoram, mas não tem como agradar a todos né? A capoeira é dinâmica ela movimenta, ela atualiza e desenvolve sozinha, tem vida própria mesmo. O que eu fiz foi resgatar uma capoeira que ficou perdida no tempo, uma capoeira que eu via na Bahia. Tinha o João Bate-estaca, que é o mestre João Grande e outros tantos lá que faziam uma capoeira maravilhosa, como ainda hoje. Ele, mestre João Pequeno e outros mais são exemplo de maestria mesmo. Ninguém mais quer a violência na capoeira. Veja bem, o aluno paga uma mensalidade e o professor o coloca para brigar? O mundo tá muito violento e a capoeira precisa ser algo prazeroso pro aluno. O negócio é jogar a capoeira, uma capoeira bonita, forte, eficiente, mas uma capoeira com respeito ao outro. Quando a gente sabia que tinha um capoeirista na nossa cidade, ou numa cidade próxima, a gente ia, de bicicleta, a pé, de jegue, seja lá como for, mas a gente ia lá ver o cara, aprender, treinar junto e tal. Hoje o mestre manda os alunos irem quebrar a roda do outro. Eu digo sempre pros meus alunos, olha, vai lá participe, não some mas multiplique, acrescente e, principalmente, faça amigos. É isso que está faltando na capoeira, esta camaradagem que virou uma rivalidade burra, sem objetivo nenhum e quem perde é a capoeira. Hoje, o feitor da capoeira é o próprio capoeirista. E precisamos mudar isso, acho que já tá mudando, pra melhor.
Jornal CDO: O grupo Cordão de Ouro tem crescido bastante. São hoje mais de 70 mil alunos. Como o senhor vê este crescimento da capoeira?
Mestre: Quando tudo começou eu já imaginava que a capoeira iria crescer, mas nem tanto assim né? Lembro como se fosse hoje, eu e o Brasília começando a até mesmo a escolher o nome do grupo. O grupo Cordão de Ouro foi criado entre 66 por aí, registrado em 67. Eu e o Mestre Brasília fundamos a Cordão de Ouro, depois o Brasília saiu e eu continuei. Começou os primeiros alunos, foi crescendo, gente buscando o treinamento, e hoje eu digo que a capoeira saiu da Bahia, ganhou São Paulo, o Rio e depois o mundo. A capoeira é muito forte no exterior, toda capoeira. A Cordão de Ouro também, nos EUA, na Europa, em Israel, no México, agora temos no Japão, na Rússia, na Polônia no Chile e em Itabuna, rsrsrs. Digo Itabuna porque recentemente recebemos uns alunos que na verdade são bisnetos meus de capoeira que agora fazem parte da Cordão de Ouro, já eram da família, do Grupo Raça, grupo que considero uma extensão do meu trabalho, como considero meu filho o Mestre Luiz Medicina. Mas é uma alegria enorme receber estes presentes que Medicina me deu, Ninja, Risadinha e outros lá. Acho que o crescimento da capoeira é bom, mas é preciso aquilo que eu disse, é preciso mudar a mentalidade do capoeirista, principalmente dos mestres e graduados. Parar de achar que sua capoeira é melhor, ou que você é melhor. Um exemplo de mestria é João Grande e João Pequeno: dois homens que eu quero como referência como mestre de capoeira. O cara sabe que ele é um ser humano igual a outro, mortal igual ao outro e que o maior é Deus, e não ele.
Jornal CDO: E o Capoeirando 2010? Os 50 anos de capoeira?
Mestre: Bom, o Capoeirando começou com uma parceria com o Mestre Gato e o Mestre Peixinho, o Marcelo Caveirinha em Ubatuba em 94 e depois resolvemos fazer na Bahia. Daí o Gato e o Peixinho foram fazer em Arraial do Cabo e eu continuei lá na Bahia, em Ilhéus. Eu sempre queria fazer um evento grande lá, há muitos anos eu dizia ainda pro pai de Temi: ainda vou fazer um encontro internacional aqui. Praia, capoeira, água de coco e tudo mais. Muita capoeira, é manhã, tarde e noite, aulas, bate-papo, mestres e mais mestres. Durante 6 dias de integração social é gente se conhecendo, gente conhecendo outros países, muitos países. Já chegamos até 30 países. Nunca teve uma desavença, uma briga. Esse é um dos maiores agradecimentos meus aos capoeiristas. O sucesso do Capoeirando não é meu, é da capoeira. Agradeço aos mestres, aos alunos, aos meus amigos que todos os anos me ajudam lá. E espero todos vocês neste ano. Vamos fazer uma formatura da matriz, campeonato, festival de música e muito mais. Estou esperando muitos mestres e contramestres pra comemorarmos juntos os 50 anos de capoeira.






